Ayahuasqueiro lisérgico.
Gostaria de dividir com os psiconautas alguns pensamentos, experiências …
Nos tempos de faculdade tive a chance de estudar sobre terapias psicodélicas, Timothy Leary, Richard Alpert, Stanislav Grof e outros. LSD, mescalina e Psilocibina, expansores da consciência com potencial incrível. Seria possível acessar locais recônditos da mente, tratar traumas, experiências foram feitas para reabilitação de presidiários, as possibilidades eram inúmeras.
A CIA fez experiências secretas (MKUltra) algumas dignas de filme de ficção. A Irmandade do Amor Eterno inicialmente planejava mudar o mundo através da massificação da molécula (acid one dolar). Hoffman fica receoso. Por fim a estigmatização, lendas urbanas e proibição.
Foi nessa época de estudo que fiquei curioso sobre o LSD, as coisas que li me deixaram impressionado. Mas como eu teria acesso? Não tinha nenhum contato. Alguns colegas apertavam a brisa no fumo da canabis, mas não me ocorreu de procurar por eles. Muito provável não teriam acesso também.
Pois bem, o tempo passou, as tecnologias e a internet trouxeram oportunidades. Com muito receio tinha em minhas mãos um quadradinho de papel verde, muito fino. Era um Memorial Hoffman. Início de madrugada, pus o papel debaixo da língua. Gosto nenhum, expectativa positiva e o tempo passando. Não sei se a quantidade da substância era muito pequena ou se talvez o selo fosse antigo, então foi muito suave, e não poderia ter sido melhor.
Uma hora passou, duas e eu achando que não ia rolar nada. Mas as mudanças ocorreram tão levemente que nem percebi. De repente os reflexos da luz na parede estavam lindamente cintilantes, róseos. Visão em ultra HD definition. As ferrugens do armário de metal na cozinha pareciam uma constelação, e olhar tudo isso trazia uma sensação de prazer indescritível. Apesar, pensei, é só isso? Foi quando deitei e fechei os olhos, imagens em neon, linhas formando labirintos e figuras estilizadas, pela primeira vez surge em minha mente a simbologia arquetípica do Touro, animal de poder que me acompanharia em todas as viagens posteriores. Entendimentos e compreensões surgiam aos montes em minha cabeça.
A trip passou.
Empolgado com a primeira experiência, e me auto iludindo, tomei um nbome (não sei qual B,C,I …) como se fora LSD. A primeira Bad Demoníaca Trip tinha os Bealtes estampados no quadradinho. Se antes a trip foi suave essa outra foi extrema. Loop temporal, pavor e agonia em sons distorcidos, a confusão mental era tamanha que nem cálculos simples eu conseguia fazer. Uma mente que a natureza levou milhões de anos para afinar se transformou num amontado desconexo de percepções em poucas horas. Estava jogado no nbome-space, acreditando que havia uma conspiração reptiliana marcando as testas dos nbome-users. Passei pelo inferno.
E assim fui de blotter em blotter, me inspirando em introspeções e visuais. Até o momento no qual me deparei com La Muerte, a caveira mexicana. Vocês perceberam como está comum hoje em dia encontrar nas artes e na moda a Caveira Mexicana? Até tatuagem dela já vi, e mais de uma vez.
Não que os outros selos não fossem LSD, mas o La Muerte tinha uma energia diferente, a essência não era só química, mas trazia em si a verdadeira vontade psiconáutica. Talvez alguém saiba explicar…
Então, alguns complicadores existiam para o uso do L25. Sempre era necessário ficar sozinho, então as oportunidades eram muito reduzidas, o próprio fato de estar sozinho, às vezes me deixava desconfortável, é sempre mais seguro estar com alguém. Também tenho uns efeitos que me deixam preocupados, minha temperatura sempre sobe muito e uma vez ou outra sinto uma dormência forte nas pontas dos dedos.
Assim como as coisas surgem e as informações aparecem, fiquei sabendo de um Grupo Xamânico aqui na minha cidade, no qual o ritual com a Ayahuasca é realizado regularmente, ou seja, poderia ter experiências com o DMT. E o interessante é que lá no Grupo não existe doutrinação nenhuma, o Ayahuasca é administrado e cada um está por si, para fazer sua viagem interna. Lá sentiria a segurança necessária e encontraria o local apropriado para o transe.
O Ayahusca, como muitos já sabem, é uma bebida formada pela folha de Chacrona, rica em DMT e o cipó Jagube, que no caso funcionará também como IMAO, isso quer dizer que impedirá a degradação do DMT. Muitos etnobotânicos classificam o DMT como o LSD da floreta.
Estava lá, a sessão foi aberta. Me foi servido um copinho, uma dose pequena. Um gosto terrível. Sentei-me e fiquei lá esperando. A reação inicial é muito corporal, senti o corpo encolhendo, como se meu eu estivesse comprimido nesse corpo e depois como se estivesse molhado, a energia da molécula estava chegando, eu olhava para as nuvens e elas estavam ficando verde esmeralda. Dirigi-me para um canto e deitei-me num colchonete, olhos fechados. De repente a visões começaram, um grande globo vermelho incandescente num espaço escuro e milhares de fios de luz atingindo essa esfera, uma voz me acompanhava e me explicava que essa cena revelava a chegada de nossas consciências em nosso planeta e que se todos estávamos aqui, é por que compartilhamos uma razão em comum para estarmos aqui.
Ente outras coisas, vi e senti a felicidade do Pajé em reencontrar as plantas certas para fazer a poção. Tentáculos repletos de olhos, movimentos fractais ondulatórios em constate mutação. Os Dragões habitam o vácuo do espaço. Tantos olhos servem como adorno. Essas figuras que antes me pareciam como meros visuais, nessa experiência se revelaram como entidades arquetípicas, vivas, portadores de existências própria, vivendo em outra dimensão.
Depois de muitas outras coisas, fomos chamados de volta ao planeta terra. Era o momento de ser oferecido mais um copinho. As pessoas formaram uma fila, olhei para os copos e eles estavam com um forte brilho azul, pensei que seria oportuno beber mais um copo. E fui.
A partir daí uma forte experiência de cura começou a ser realizada. O Pajé estava ali e guiava minhas mãos pelo meu abdome. Ao mesmo tempo lembranças antigas de minha infância me vinham à mente, as inúmeras vezes que tive que engolir meu choro por ordem de adultos, como minha garganta foi travada por não poder expressar emoções. Vi centenas de serpentes finíssimas a se movimentar pelos nadis do meu corpo, em alguns momentos esse movimento eram represados, e aí as serpentes tomavam consciência de si mesmas, por alguma razão isso não era bom, o natural é que o fluxo não seja interrompido. Uma voz me dizia: Abra mão de suas couraças, sua armadura reluzente. Ela te protege, mas também te faz mal, não a use mais. Quando escutava isso, meu corpo encontrou um estado relaxamento nunca sentindo anteriormente. Mil anos se passaram naqueles instantes, chorava sem saber ou entender o porquê.
Não sentia mais o físico, eu era uma consciência incorpórea flutuando com a música, eu era a própria música. Senti um tanto de medo nessa hora.
De repente me senti numa existência anterior a essa, eu era um espírito vivendo num planeta deserto, o único habitante desse planeta. Uma cidade imensa de prédios de vidro vazios e eu por lá por centenas de anos, muito embora esses séculos tenham se passado em segundos no tempo dessa realidade na qual vivemos. Uma mera realidade, possível entre várias outras paralelas.
Por fim, visuais de geometria de eterno movimento, transformando-se em estrelas cabalísticas, símbolos antigos, flechas luminosas, arcos, luas, símbolos maçônicos, hieróglifos diversos.
O trabalho começou a ser encerrado, algumas mulheres do local começaram a dançar, nunca foi tão aprazível observar a beleza daqueles movimentos.
Tive uma empatia e sentimentos de aceitação por todos que estavam ali, até um pouco envergonhado pela indiferença que senti em relação a eles quando cheguei lá.
Bom, amigos é isso mais ou menos, resumidamente o que gostaria de compartilhar com vocês.